QUINTA
CIENTÍFICA

DIA 16 Março

O uso de medidas de experiência do paciente nos sistemas de saúde: uma revisão sistemática narrativa

O uso de medidas de experiência do paciente nos sistemas de saúde: uma revisão sistemática narrativa

Share on facebook
Facebook
Share on twitter
Twitter
Share on linkedin
LinkedIn
Share on email
Email
Este texto é baseado na resenha do seguinte artigo: 
Jamieson Gilmore K, Corazza I, Coletta L, Allin S. The uses of Patient Reported Experience Measures in health systems: A systematic narrative review. Health Policy. 2023 Feb;128:1-10.
Link: 10.1016/j.healthpol.2022.07.008

Introdução

O conceito de experiência do paciente tem se tornado central nas medidas de desempenho dos sistemas de saúde e melhoria da qualidade nos anos recentes. Corresponde a um elemento integral do cuidado centrado na pessoa, importante em concepções de assistência de alta qualidade e atenção baseada em valor. No centro dessas iniciativas está o reconhecimento de que os pacientes são os melhores (ou únicos) qualificados para oferecer informações sobre o que importa para eles, e sobre como eles percebem os vários elementos de suas interações no sistema de saúde.

Nessa perspectiva, o trabalho de Gilmore e colegas, recém publicado, procurou responder às seguintes perguntas:

  • De que forma as medidas de experiência do paciente (ou Patient Reported Experience Measures – PREMs) são usadas para avaliar o desempenho dos serviços ou promover a melhoria da qualidade dos sistemas de saúde? Quais os usos no micro, meso e macro nível dos sistemas de saúde?
  • As respostas às perguntas anteriores fornecem evidências suficientes do impacto dos dados de PREM em algum nível do sistema de saúde?

Motivação para o estudo

A quantidade de tempo, esforço e recursos monetários gastos em questionários de PREMs para cumprir regulações governamentais ou incentivos. Programas internacionais para aumentar ou padronizar o uso desse tipo de coleta de dados requerem coordenação e compromisso de administradores e analistas de vários países. Pacientes gastam tempo respondendo aos questionários, e dados de pacientes não deveriam ser coletados sem um bom motivo e uso com uma finalidade específica. Sem conhecer as propostas pelas quais os dados de PREMs são usados não é possível julgar o valor da coleta de tanta quantidade de dados.

Os autores utilizaram somente trabalhos que mostravam como os PREMs são usados na prática. Eles categorizaram os trabalhos encontrados de acordo com o uso dos PREMs em diferentes níveis. Ao todo foram avaliados 28 artigos, com datas de 1996 a 2018.

O que são dados de experiência do paciente?

O Quadro abaixo apresenta os tipos de dados de experiência do paciente:

O que PREMs são:

  • Ferramentas usadas para coletar percepções dos pacientes sobre os vários elementos do cuidado que recebem
  • Ex.: investigam se certos tipos de informação foram oferecidos na admissão ou alta hospitalar.
  • Procuram captar o que realmente aconteceu ao paciente, sob sua perspectiva,
  • São estruturadas sob dimensões reconhecidas como importantes para os pacientes

O que PREMs NÃO são:

  • Pesquisas de satisfação, embora o PREM inclua um ou mais itens que buscam opinião geral sobre a experiência do paciente
  • Ex.: se o paciente está satisfeito com essa informação.

São vários os tipos de questionários disponíveis para mensuração da experiência do paciente:

  • Aqueles que captam experiências de um determinado grupo populacional,
  • Com foco em serviços específicos (cuidado primário, emergência, etc),
  • Aspectos do cuidado (continuidade, por exemplo)

Onde são coletados e utilizados os dados de experiência do paciente?

O desenvolvimento e adoção dos PREMs podem ocorrer no âmbito do serviço de saúde ou em programas nacionais. A proposta de coleta de PREMs nos programas nacionais e internacionais é medir – e então ajuda a melhorar – a experiência do paciente como um objetivo em si mesmo, ajudar a criar mais sistemas de saúde centrados na pessoa e ajudar a entregar melhores resultados para o paciente e melhorar a qualidade e segurança dos serviços.

Quais as vantagens do uso de PREMs no NÍVEL MICRO do sistema de saúde?

O nível micro do sistema é focado, principalmente, no uso de PREMs para mensurar o desempenho em hospital ou qualidade do cuidado na linha de frente. As seguintes iniciativas de melhoria da qualidade foram observadas:

  • Redesenho de processos no ambiente/instituição,
  • Redução de atrasos,
  • Melhoria no ambiente físico,
  • Oferecimento de diferentes opções de alimentação,
  • Melhoria na comunicação entre o quadro de funcionários e os pacientes

Os estudos também mostraram que ações bem-sucedidas baseadas em dados de PREM dependem de:

  • Cultura organizacional,
  • Disponibilidade de fundos para a melhoria do trabalho,
  • Desafios de bases do staff (não especificados),
  • Disponibilidade de capacidade de tradução dos dados,
  • Dados no nível ideal de granularidade

Um estudo mostrou que a divulgação pública dos dados de PREMs ou seu uso em mecanismos de reembolso (nível meso) pode ser eficaz em promover ações cascateadas para o nível micro.

Quais as vantagens do uso de PREMs no NÍVEL MICRO e MESO do sistema de saúde?

No National Health Service (NHS) da Inglaterra é obrigatório coletar e publicar dados de experiência do paciente. Isso é feito especialmente em hospitais, e visto como positivo por parte dos funcionários, citando seu uso para fins de planejamento. Porém, algumas barreiras são recorrentes:

  • Disponibilidade de dados em desagregação suficiente para identificar ações de melhoria,
  • Proporcionar engajamento clínico,
  • Cultura organizacional,
  • Tempo e recursos

Tipos de iniciativas feitas com base nos resultados dos PREMs:

  • Treinamento médico,
  • Compartilhamento de resultados em sessões de feedback,
  • Redesenho de processos 

Quais as vantagens do uso de PREMs no NÍVEL MESO do sistema de saúde?

Neste nível o PREM é usado, principalmente, para fins de reembolso. Os escores de experiência do paciente, com desenvolvimento de modelos de pagamento por desempenho, e inclusão da experiência do paciente como um domínio.

No nível hospitalar, exemplos de iniciativas oriundas dos resultados dos PREMs são:

  • Mudanças nos agendamentos de turnos médicos,
  • Treinamento em habilidades de comunicação,
  • Envolvimento de representantes da comunidade para educar o staff do hospital sobre fatores étnicos e culturais,
  • Melhoria no respeito pelas preferências do paciente,
  • Introdução de ligações pós alta hospitalar para monitorar a continuidade do cuidado e transições

Quais as vantagens do uso de PREMs no NÍVEL MACRO do sistema de saúde?

Apenas um estudo foi citado, na realidade um relatório da OCDE que compara o uso dos resultados do PREM em diferentes sistemas nacionais de saúde, assim como o estado atual da comparação internacional dos dados do PREM. A comparação internacional compreende dados da experiência do paciente no nível ambulatorial em 19 países da OCDE. O relatório defende a padronização e uso de pesquisas, tanto de PREM como de PROM em nível internacional, que é o foco de um grande programa da OCDE. 

Como os resultados do PREM foram utilizados em diferentes países?

Em sistemas de saúde nacionais como Inglaterra, Dinamarca e Itália os dados de PREM foram usados para estimular ações de melhoria em hospitais por meio de benchmarking e divulgação pública dos dados, bem como gestão de desempenho e reembolso da atenção primária. No sistema dos EUA, foi utilizado para impulsionar programas de melhoria no reembolso hospitalar, e na avaliação de reembolso da atenção primária.

Por que indicamos esse artigo:

Porque ele agrega uma série de estudos sobre o uso dos PREMs para melhoria do desempenho no sistema de saúde, permitindo ter um conjunto de evidência sobre as iniciativas decorrentes dos seus resultados, barreiras para seu uso e condições prévias para que sua implementação tenha efeito. Além disso, ele mostra essas evidências por nível do sistema de saúde. Por ser um estudo muito recente (publicado em fevereiro de 2023), os achados do trabalho podem estimular o uso dos PREMs, especialmente no nível organizacional dos serviços de saúde, além de fomentar a discussão sobre uma implementação em larga escala da experiência do paciente, a exemplo do que acontece com outros países.

Cristina (Tina) Guimarães
Políticas públicas e advocacy em saúde

Profissional com sólida formação acadêmica na área de Demografia da Saúde, experiência acadêmica e de pesquisa na área de saúde populacional com grupos de advocacy e quase 10 anos de experiência em trabalhos de pesquisa e consultoria em políticas de saúde no Brasil e no exterior, Tina Guimarães fundou sua própria consultoria em janeiro de 2020. Seu trabalho é centrado nos pilares de ampliação do conhecimento, por meio de cursos e treinamentos, e projetos de consultoria personalizados, centrados no trabalho em rede para a mudança política. 

Tina Guimarães é Bacharel em Economia pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Doutora em Demografia pelo Cedeplar/UFMG e Pós-Doutora pela Universidade de São Paulo. É também professora de Políticas de Saúde no MBA de Economia e Avaliação de Tecnologias de Saúde da FIPE. Dentre suas experiências anteriores como docente ainda estão: EAD em Políticas de Saúde no MBA de Pesquisa Clínica do Hospital Alemão Oswaldo Cruz (PROADI-SUS); Professora no MBA de Avaliação de Tecnologias em Saúde do Hospital Alemão Oswaldo Cruz (PROADI-SUS),no MBA de Gestão Atuarial da FIPECAFI e professora de Demografia no Curso de Ciências Atuariais da Universidade de São Paulo.

Cristina (Tina) Guimarães
Políticas públicas e advocacy em saúde

Profissional com sólida formação acadêmica na área de Demografia da Saúde, experiência acadêmica e de pesquisa na área de saúde populacional com grupos de advocacy e quase 10 anos de experiência em trabalhos de pesquisa e consultoria em políticas de saúde no Brasil e no exterior, Tina Guimarães fundou sua própria consultoria em janeiro de 2020. Seu trabalho é centrado nos pilares de ampliação do conhecimento, por meio de cursos e treinamentos, e projetos de consultoria personalizados, centrados no trabalho em rede para a mudança política. 

Tina Guimarães é Bacharel em Economia pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Doutora em Demografia pelo Cedeplar/UFMG e Pós-Doutora pela Universidade de São Paulo. É também professora de Políticas de Saúde no MBA de Economia e Avaliação de Tecnologias de Saúde da FIPE. Dentre suas experiências anteriores como docente ainda estão: EAD em Políticas de Saúde no MBA de Pesquisa Clínica do Hospital Alemão Oswaldo Cruz (PROADI-SUS); Professora no MBA de Avaliação de Tecnologias em Saúde do Hospital Alemão Oswaldo Cruz (PROADI-SUS),no MBA de Gestão Atuarial da FIPECAFI e professora de Demografia no Curso de Ciências Atuariais da Universidade de São Paulo.

Cristina (Tina) Guimarães
Políticas públicas e advocacy em saúde

© 2023 – Todos direitos reservados.

São Paulo – SP, Brasil.